Edição 252 | 31 Março 2008

Editorial

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

A violência gaúcha e brasileira. Um debate

Não faz muito tempo, quando se falava de violência, logo nos lembrávamos de Nova Iguaçu, Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Depois, já nos vinha à memória a cidade do Rio de Janeiro com suas favelas. Gradativamente, a violência tornou-se algo rotineiro quando abordamos os grandes centros urbanos brasileiros. Mas, para muitos, ela continuava sendo algo longínquo. Especialmente para nós, gaúchos. Qual não é o espanto quando pesquisas, reportagens e artigos nos põem defronte à violência em nossas plagas? Mais ainda. Não somente na cidade de Porto Alegre, mas especificamente, cidades, como as do Vale do Rio dos Sinos, têm um índice crescente de violência que assusta e faz refletir. Assim, por exemplo, São Leopoldo e Novo Hamburgo, no Vale do Rio dos Sinos, cidades e região com uma história social, econômica, religiosa e cultural muito característica, são muito mais violentas que cidades da Metade Sul do RS, região mais pobre e com outras características socioculturais e religiosas, como, por exemplo, Rio Grande e Pelotas.

Desafiada por tais dados da realidade, esta edição da IHU On-Line busca contribuir na reflexão sobre o fenômeno da violência no Brasil e, especificamente, no Rio Grande do Sul, especialmente, no Vale do Rio dos Sinos.

Pesquisadores, sociólogos, advogados e administradores públicos da região do Vale do Rio dos Sinos, como Ronaldo Henn e Carlos Gadea, da Unisinos, Cássia Rebelo Hofstätter, da Feevale, Carlos Roberto Sant’Ana da Rosa, secretário municipal de Segurança Pública de São Leopoldo e Jair Krischke, advogado e fundador do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, contribuem na discussão do tema.

Já para Vera Malaguti Batista, secretária geral do Instituto Carioca de Criminologia (ICC), “a história do Brasil é uma história de violências. O genocídio colonizador, a destruição das civilizações indígenas e a violência fundacional da escravidão são as marcas, permanências históricas. Cada vez que o povo brasileiro tenta ser o protagonista de sua história ele é criminalizado e brutalizado”. Segundo ela, “a policização da conflitividade social e a magnificação do sistema penal perpetuam a truculência e a barbarização dos pobres”.

“É duro aceitar que chega a quase meio milhão o número de brasileiros assassinados entre 1996 e 2006”, constata, por sua vez, Jorge Zaverucha, professor da UFPE. Ele aponta para um “detalhe”: “O Estado pune quem viola a lei. Mas aqui em Recife, há a figura do ‘chaveiro’ de cela do presídio. É um preso, pago pelo Estado, para controlar outros presos em troca de favores informais da direção do presídio. É o Estado patrocinando a ilegalidade de um modo informal. Afora a Lei de Execuções Penais que é cotidianamente violada em todo o país. Mas quem fiscaliza o Estado?”.

Uma série de filmes brasileiros, recentemente, tem abordado o tema da violência. Pelo sucesso de público sobressai o Tropa de elite, de José Padilha que será exibido e debatido nesta semana, no IHU. “Apesar da boa intenção dos seus autores, é um equívoco”, avalia o cineasta Fernando Bonassi, roteirista de filmes como Estação Carandiru, de Hector Babenco e Cabra cega, de Toni Venturi, em entrevista publicada nesta edição. “Certos temas merecem mais inteligência e ousadia formal do que o mero realismo, afirma. Saí do filme com vontade de chacinar criminosos e olhe que não tenho essa índole…”.

Pós-máquinas ciberhominizadas? Este o título da entrevista de Giovanni Alves, professor da UNESP, comentando o filme Blade Runner – O caçador de andróides, a ser exibido e debatido nesta semana no IHU, em preparação para o Simpósio Internacional Uma sociedade pós-humana? Possibilidades e limites das nanotecnologias. Dentro desta mesma programação, Ronaldo Giro, professor da USP, reflete sobre a pesquisa em nanotecnologias no Brasil e a química Priscyla Marcato analisa os limites e as possibilidades das nanobiotecnologias.

“Síndrome de Estocolmo” e “Astúcia” são os poemas da semana, de autoria do poeta gaúcho Leandro Sarmatz.

Mirian Dolores Baldo Dazzi, professora da Unisinos, discute as transformações vividas pelas mulheres, a partir do filme Lanternas vermelhas, de Zhang Yimou, e o poeta e tradutor Júlio Castanõn Guimarães reflete sobre os desafios de traduzir para o português poeta francês Stéphane Mallarmé.

A todas e todos uma boa semana e uma ótima leitura.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição