Edição 247 | 10 Dezembro 2007

Filme da semana: Lady Chatterley

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

O filme comentado nessa edição foi visto por algum(a) colega do IHU e está em exibição nos cinemas de Porto Alegre, como o Arteplex, do Shopping Bourbon Country.

Ficha Técnica:
 
Nome: Lady Chatterley
Nome original: Lady Chatterley
Diretora: Pascale Ferran
Com: Marina Hands, Jean-Louis Coullo'ch, Hippolyte Girardot
Cor filmagem: Colorida
Origem: França
Ano produção: 2006
Gênero: Drama
Duração: 168 min
Classificação: 14 anos 

Sinopse:
Connie Chatterley (Marina Hands) é a mulher negligenciada de um nobre inválido (Hippolyte Girardot). Um dia, ela conhece o guarda de caça da sua propriedade (Jean-Louis Coulloc'h). Os dois começam a ter um caso extraconjugal que muda suas vidas.


“A diretora francesa Pascale Ferran conseguiu um grande feito com Lady Chatterley: fazer um filme de época com uma leitura contemporânea”, afirma Alysson Oliveira, crítico de cinema . Pois, segundo ele, “diretores que se arriscam nesse tipo de filme muitas vezes caem numa mesma armadilha, fazer um filme preso ao passado, o que o torna pesado e quase sempre desinteressante. Esse drama francês vai na contramão do estereótipo. Adaptado de uma segunda e menos conhecida versão do romance O amante de Lady Chatterley, do inglês D. H. Lawrence, o longa prima pela leveza, sem cair numa abordagem rasa”.

O livro de D. H. Lawrence, escrito em 1928, somente foi liberado em 1960, na Inglaterra. Para o escritor inglês, Ian McEwan, a liberação do livro “mostrou que uma mudança nos costumes estava para vir, mas ninguém imaginava que seria algo tão explosivo. O fim da proibição do livro foi o começo do fim de uma era, de um modo de pensar. Estávamos vendo todo um establishment começar a desaparecer” .

Das seis adaptações do livro para o cinema e televisão, aliás, esta é a única até agora dirigida por uma mulher – o que faz uma grande diferença na compreensão da protagonista.
“O caráter libertador do livro, que já era ameaçador, mostrava-se bem mais subversivo e incômodo no cinema”, anota Inácio Araújo, crítico de cinema . Segundo ele, “Pascale Ferran certamente se beneficia de filmar no século 21, com um recuo no tempo e um reconhecimento da obra literária que terminam por calar mesmo os mais moralistas, por um lado. Por outro, ela bota ordem na casa e faz um filme fiel à intenção de Lawrence de ‘tornar a relação sexual autêntica e preciosa, em lugar de vergonhosa’”.

Inácio Araújo comenta:

Em primeiro lugar, tratou de dar ao sexo e à sexualidade seu lugar devido, mas evitou aquela vulgaridade que consiste em ver Constance como a mulher de um homem impotente por ferimento de guerra. É isso, mas é mais do que isso: o que o filme vê é o fim de uma era, a que precedeu 1918 e o final da Primeira Guerra Mundial, de uma aristocracia onipotente numa Inglaterra idem.
Nada melhor do que a cena de Clifford com sua cadeira de rodas mecânica para exprimir um desespero que, certamente, é pessoal, mas nem por isso deixa de nos falar de um mundo cujas coordenadas nos escapam e ofendem.

Constance Chatterley participa apenas de maneira indireta desse mundo. Ela pode servir seu chá, mas é à natureza que está ligada. Ela é toda natureza. Humana, entre outras: o bastante, por exemplo, para se contemplar com satisfação diante do espelho. Ou para dar valor enorme às coisas que vêm da terra.

Não é o caso de Parkin. O guarda-caça do domínio dos Chatterley é, sem dúvida, um homem da natureza. Sua condição social de certa forma o incapacita ao exercício da propriedade sobre Constance, sua patroa. Isso ajuda na aproximação entre os dois, embora o fundamental seja o caráter sexuado do homem, de que Constance se dá conta com rapidez aliás fulminante. O resto será, como define a própria Ferran, um retrato em movimento, como uma paisagem vista por alguém que se desloca.

Lady Chatterley é um filme feminino, pelo olhar. Mas talvez até mesmo se possa usar a respeito dele a palavra feminista, menos por uma reivindicação ao prazer sexual como direito (ele está implícito) e mais pelo exercício de uma sensibilidade e de um olhar que se entregam à liberdade de maneira plena, talvez porque tenham pouco a perder”.

O longa de Pascale Ferran ganhou cinco prêmios César na França em 2006 – melhor filme, roteiro, fotografia, figurino e atriz.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição