Edição 241 | 29 Outubro 2007

Ronald Polito

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IHU Online

Editoria de Poesia

Ronald Polito

Nascido em 1961, em Juiz de Fora (MG), Ronald Polito é poeta, tradutor, ensaísta e historiador. Publicou, entre outros, os livros Solo (1996), Intervalos (1997) e Terminal (2006), todos lançados pela editora 7Letras, do Rio de Janeiro, além de De passagem (São Paulo: Nankin, 2001) e Pelo corpo (São Paulo: Alpharrabio Editorial, 2002), este em parceria com Donizete Galvão. Na área da tradução, verteu para o português poemas de Sylvia Plath, Pierre Reverdy e autores catalães, entre outros. Também organizou estudos sobre obras, como “Caramuru”, e escreveu sobre Tomás Antônio Gonzaga em Um coração maior que o mundo (São Paulo: Globo, 2003), resultado de seu trabalho de mestrado, feito em História Social das Idéias, pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

O poeta procura sintetizar a corrosão da vida moderna: ele parte do desastre cotidiano, o qual enfrenta com um olhar diferenciado, e o converte numa poesia que nega sua própria matéria, através de um certo pessimismo que atinge seu mais alto grau pela ironia (os títulos dos poemas de Polito representam essa característica). No entanto, ao empreender essa fuga da matéria, o poeta revela, antes, um apego, em sua solidão, a essa matéria – mesmo que representativa de certa discórdia humana. Algumas das principais características de sua poesia são o minimalismo, o choque diante do outro e a sensação de surpresa frente à realidade, marcada pela violência, sobretudo pelo desgaste da representação do corpo na modernidade. A violência da cidade grande é abordada sobretudo em seu livro Terminal, mas em Intervalos, anteriormente, já se destaca uma dissolução da existência. No entanto, assim como em De passagem, surgem poemas com um sentido de compreensão e de desilusão amorosa, em “Paixão”, de Terminal: “Quando me vejo diante de você / e relembro (ou melhor: / não exatamente isso, pois / não há ordem, história / ou até uma coisa que se ligue / a outra), então, me vêm a mente / uma outra coisa / luz mais feliz sobre / uma cena, um objeto, / uma aragem que / talvez tenha aliviado a / febre da pele, ou uma / gota d´água pura em sua / aparência, quando / vejo (por dentro) e recomponho / a fragilidade de tais mínimos / eventos, tentando fazer com eles / um só corpo, um corpo”.

Polito também publicou Cenas do Japão (São Paulo: Globo, 2004), livro de crônicas sobre sua experiências nesse país do Oriente, onde deu aula na Tokyo University of Foreign Studies, no Departamento de Estudos Luso-Brasileiros. Polito concedeu a entrevista “Um enigma não revelado”, na edição 232 da IHU On-Line, de 20-08-2007, intitulada “Carlos Drummond de Andrade. O poeta e escritor que detinha o sentimento do mundo”. O texto abaixo, que Polito enviou especialmente à IHU On-Line, faz parte de um livro que prepara, com micronarrações poéticas. O texto é releitura de um escrito kafkiano, para o leitor descobrir.

Na platéia

(lendo Kafka)

Frágil, delicada, a pequena amazona, erguida e colocada por braços poderosos sobre o dorso ondulado de um cavalo branco com adornos flamejantes, dá voltas pelo picadeiro, mas mesmo seu rosto infantil não consegue distrair da monotonia de suas voltas pelo picadeiro, sob o dorso do cavalo branco com adornos, apesar de ele ir às vezes um pouco mais rápido e ela apresentar sem erros sua seqüência de posições na sela. E praticamente não desperta aplausos. E não há ninguém que grite.

Porque ágil, esguia, a garota miúda sobre as ancas do animal que corre, salta e voa por círculos de fogo e facas, rodopia muitas vezes o palco na mira de centenas de pares de olhos ziguezagueando ao encalço de seu vulto, sem fôlego, com descargas de susto e medo diante de tal impensável, talhos de gotas e rajadas de gritos logo suspensos por foles, grandes goles de ar duro. E a explosão de aplausos a retém no palco, obrigando-a a recomeçar seu número. E não há ninguém que chore.

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