Edição 235 | 10 Setembro 2007

Um dia sem mexicanos, de Sergio Arau

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IHU Online

Ciclo de Filmes e Debates - Trabalho no cinema

Todos os imigrantes de origem hispânica e que vivem nos Estados Unidos, “são rotulados de ‘mexicanos’”, assinala a administradora de empresas Sílvia Polgati, em entrevista por e-mail concedida à IHU On-Line. A professora destaca que essas atitudes de preconceito e discriminação são denunciadas no filme Um dia sem mexicanos, de Serio Arau. Polgati é docente no Centro de Ciências Econômicas da Unisinos e, junto com a Prof.ª Dr.ª Marluza Marques Harres, debaterá nesta quarta-feira o filme Um dia sem mexicanos, do diretor Sergio Arau, dentro da programação do Ciclo de Filmes e Debates – Trabalho no Cinema.

Polgati é graduada em administração de empresas, especialista em Gestão de Recursos Humanos e mestre em Ciências Sociais aplicadas com a dissertação Mutações no mundo do trabalho e Ofi-Sinos: uma resposta acadêmica? Todos os cursos foram realizados na Unisinos. Marluz Marques Harres é graduada em História, pela Unisinos, e mestre e doutora em História, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com a tese Conflito e conciliação no processo de reforma agrária do Banhado do Colégio. Camaquã, Rio Grande do Sul. Docente nos cursos de graduação e pós-graduação em História na Unisinos, é uma das organizadoras das obras História oral: experiências e expectativas. Caderno de Resumos do III Encontro Regional Sul de História Oral – ABHO (São Leopoldo: Editora Oikos Ltda., 2005) e A História da Câmara e a Câmara na História (São Leopoldo: Oikos, 2006).

Mexicanos?

Entrevista com Sílvia Polgati


IHU On-Line - Que traços reais a ficção Um dia sem mexicanos traz sobre a sociedade americana?
Sílvia Polgati –
O filme começa mostrando o cotidiano da população do estado da Califórnia. Um terço da população desse estado é composto por mexicanos, centro-americanos, cubanos, colombianos, porto-riquenhos, brasileiros (não só mexicanos). A questão central do filme é mostrar o que aconteceria à Califórnia se a população latina do lugar, de uma hora para outra, desaparecesse.

Traços reais referentes à ficção: diria que, de um lado, temos uma nação que combate a imigração de forma ferrenha, mas que no fundo se dá conta que os trabalhadores latinos, que normalmente são mão-de-obra barata e estão relacionados aos serviços básicos (empregadas domésticas, trabalhadores rurais etc.), é uma força de trabalho essencial para economia e que a nação depende desse contingente de trabalhadores. Podendo-se concluir o quanto o EUA “também” é dependente do mundo.

IHU On-Line - Você poderia comentar sobre o trocadilho contido no título do filme, que considera “mexicanos” todos os trabalhadores latinos nos EUA?
Sílvia Polgati –
O título do filme já denota um certo sarcasmo,  pois para os norte-americanos todos os latinos são mexicanos, não importando se eles são colombianos, brasileiros, cubanos.... Lembrei de uma situação: se perguntássemos ao povo brasileiro qual a capital dos EUA certamente poucos responderiam corretamente. Por outro lado, se perguntarmos para os americanos qual a capital do Brasil, talvez a maioria não saiba, ou diga que a capital do Brasil é Buenos Aires. Estamos nos deparando com um certo conformismo? Se os americanos não sabem porque nós teríamos que saber? Será que é isso?

IHU On-Line - O que a imigração de trabalhadores aos EUA demonstra sobre as mutações que o mundo do trabalho vêm passando?
Sílvia Polgati –
Segundo a socióloga Márcia de Paula Leite, do Dep. de Ciências Sociais Aplicadas da Unicamp, o mundo do trabalho é marcado por profissões que deixam de existir e novas funções  que são criadas. A tecnologia tem sido apontada como o principal fator para criação e extinção de algumas profissões.

A modernização tecnológica produz no processo de trabalho dois setores polarizados em termos de suas qualificações: de um lado um pequeno setor de trabalhadores altamente qualificados, de outro lado; todo uma massa de trabalhadores desqualificados (Cadernos IHU idéias, ano 3, nº 34).
Entendo que o desemprego, a informalidade, a precarização do trabalho e a corrosão dos salários são alguns fatores que impulsionam a saída dos trabalhadores de seus países de origem em busca de oportunidade de trabalho em outros países, como os EUA.

IHU On-Line - Como a discriminação é enfocada em Um dia sem mexicanos? Os trabalhadores latinos são mostrados de forma estereotipada ou condizente com sua situação naquele país?
Sílvia Polgati –
A discriminação é enfocada no filme na medida em que traz a generalização norte-americana de costume, ou seja, os imigrantes de origem hispânica são rotulados de “mexicanos”. Na verdade, o filme denuncia a situação desses imigrantes e o tratamento que lhes é conferido nos EUA. Percebo que os trabalhadores latinos são mostrados de forma estereotipada. Tomo como exemplo uma personagem no filme, uma americana de descendência latina, que trabalha em um jornal direcionado para latinos e que é obrigada por seu chefe a acentuar o sotaque que ela tem para contentar o público-alvo daquela emissora.

IHU On-Line - Gostaria de acrescentar algum aspecto não questionado?
Sílvia Polgati –
Não acho que temas como esse (situação dos imigrantes nos EUA) é algo  para ser discutido e apresentado como uma comédia, como o foi em Um dia sem mexicanos, apesar do filme  fazer uma forte crítica social e mostrar que os norte-americanos vão se dando conta que a população latina, que vive naquele país, é fundamental para o seu desenvolvimento econômico, social, cultural.

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