Edição 234 | 03 Setembro 2007

Perfil Popular - Adriana Kudlack

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A figura paterna é a grande referência da vida de Adriana Kudlack, 33 anos, atendente da casa de sucos e lanches Sabor de Açaí, na Unisinos. No entanto, a separação dos pais, há 18 anos, fez com que ela se afastasse do pai, Hugo, 71 anos. A distância entre eles é grande - ele mora no Paraná e ela em São Leopoldo (RS) –, mas não foi suficiente para acabar com o carinho e a admiração que um sente pelo outro. Em entrevista exclusiva à revista IHU On-Line, Adriana destacou algumas das passagens de sua vida. A perda de um bebê e a separação dos pais são as mais marcantes delas. Ela também falou sobre o seu grande sonho: ser mãe, o que lhe dá motivação ainda maior pela vida. Confira, abaixo, a entrevista:

Origens e família – Nascida em Porto Vitória, no Paraná, faz 27 anos que Adriana vive em território gaúcho. Ela conta que a opção foi dos pais, Noemi, 69 anos, e Hugo, que adquiriram um terreno no município de Dois Irmãos. A mãe era dona-de-casa e o pai motorista das Lojas Colombo. Infelizmente, a família perdeu sua integridade. “Há 18 anos, meus pais se separaram. Meu pai saiu de casa com a roupa do corpo e voltou a morar no Paraná. Minha mãe continua vivendo em Dois Irmãos.” Encarar a situação exigiu muito equilíbrio dos seis filhos. “Foi muito difícil para mim. Quando eles se separaram, eu tinha 15 anos, e era muito apegada ao pai.” E, para não perder o contato com o seu grande mestre, Adriana pensou em ir morar com ele. “Não pude, porque minha mãe falou que, se eu fosse morar com ele, eu não a veria mais. Então, fiquei morando com ela e, assim, eu poderia continuar vendo o meu pai.” Hoje, o pai de Adriana casou de novo. Já sua mãe, continua solteira. “Ela diz que já passou trabalho uma vez e não iria passar de novo”, destaca Adriana.

Infância – Aos seis anos de idade, Adriana veio embora com a família para o Rio Grande do Sul. A infância foi muito bem aproveitada, com direito a muitas travessuras. “Eu era muito arteira e aprontava muito. Fugia de manhã cedo e só voltava para casa no final do dia. Uma vez fui para o rio e tiveram que me tirar de lá, porque o nível da água começou a subir.”

Pai e irmãos – “Sempre me dei bem com todos os meus irmãos”, afirma Adriana. Quanto ao pai, ela comenta que a relação de ambos foi marcada por muito carinho e pelo companheirismo. “Sempre saíamos juntos. Aos finais de semana, eu arrumava a roupa dele para ele sair. Eu costumava freqüentar as festas do serviço dele.”

Estudos – Adriana confessa que não gostava muito de estudar. Devido à separação dos pais, ela interrompeu os estudos na 5ª série. “Desde então, fui trabalhar para ajudar em casa. Meu primeiro emprego foi em uma fábrica de calçados, em Dois Irmãos.” A base profissional de Adriana foi construída em indústrias calçadistas, e foi solidificada em 11 anos de atuação no ramo. Embora tenha deixado os estudos há muito tempo, Adriana não esconde a vontade de voltar a estudar. “Já pensei em voltar e, talvez, prestar vestibular e chegar cursar uma faculdade. Como gosto muito de cuidar de crianças, poderia optar pela pedagogia.”

Unisinos – No dia 1º de outubro, Adriana completa três anos de trabalho na casa de sucos e lanches Sabor de Açaí, localizada no campus da Unisinos. Para Adriana, a atividade foi um grande desafio. “Nunca tinha trabalhado com alimentação. Quando comecei, não sabia nada. Também foi minha primeira experiência trabalhando direto com o público, e gostei. Fiz muitos amigos dentro da Unisinos.”

Sonho – “Ser mãe.” Este é maior desejo da vida de Adriana e de seu marido André, auxiliar de chapeação e pintura, com quem é casada há nove anos. “Não me importo se vou passar trabalho ou não.” O sonho já poderia ter sido realizado, não fosse a interrupção de uma gravidez, há três anos. “Tive uma gravidez ectópica, caracterizada pela formação do feto fora do útero.”

Solidariedade – A desigualdade social aguçou o lado solidário de Adriana, que se considera uma boa pessoa e gostaria de ter condições financeiras melhores para poder ajudar a todos. “Já tirei dinheiro do meu orçamento, do meu salário, que não é muito, para dar para os outros. Tive uma amiga que era separada, tinha filho e passava muito trabalho. Todos os meses, eu tirava dinheiro, comprava verduras, frutas, leite e iogurte para o filho dela.”

Política – “Os políticos prometem muito e pouco fazem. Há muitas pessoas dormindo na rua, muita gente passando fome, outros desempregados, e eles pouco resolvem.” Como um jogo de empurra-empurra. É assim que Adriana define o atual cenário político do país. “Os políticos dão muito mais valor a outros interesses do que ao próprio povo.” Ela exemplifica sua opinião com o investimento feito nos jogos pan-americanos realizados, recentemente, no Rio de Janeiro. “O dinheiro poderia ter sido empregado em outra área, e todos comentam isso, não somente eu.”

Fé – Adriana foi batizada na Igreja Católica, mas não é praticante assídua da religião e não esconde o contentamento com outras crenças. “Gosto de ir aos cultos da Igreja Evangélica, e temos que acreditar em alguma coisa, independente da religião.” Na visão de Adriana, Deus é um só, e existe para todos. “Tem um Deus que olha por nós e eu acredito que o meu sonho de ser mãe vai realizar um dia. Rezo para o meu Deus sozinha, em casa mesmo. Agradeço pelo que Ele já me deu e ainda pode me dar”, destaca.

Lazer – Ir para Dois Irmãos, visitar a mãe e ficar com os sobrinhos são as preferências de Adriana para as horas de folga. “Não gosto de ficar em casa. Adoro passear, visitar os amigos, ficar conversando com outras pessoas em uma roda de chimarrão.” Para Adriana, viajar também é um ótimo meio de sair da rotina. “Costumo ir seguidamente à Curitiba. Neste ano, pela primeira vez, fui visitar a minha irmã de avião. Era algo que tinha vontade de fazer, curiosidade em saber como era estar lá encima. Foi uma experiência maravilhosa.”

Saudade – “Sinto falta do tempo em que meus pais ainda se davam bem.” Uma grande realização para Adriana seria ver a mãe e o pai juntos, de novo. Além disso, ela sente saudades dos churrascos aos finais de semana, com a presença dos filhos, noras, genros e netos e os pais unidos. A mãe, Adriana vê com mais freqüência, uma vez por mês, mas a distância do pai causa um grande vazio. “Chego a ficar de um a três anos sem ver o meu pai, e sinto falta, porque sei que um dia não vou mais tê-lo.”

Momentos marcantes – Ao longo de sua trajetória, um rastro de tristeza. “Ter perdido o meu bebê foi um dos momentos mais tristes pelos quais já passei”, revela Adriana, emocionada. E não é por isso que ela deixou de sentir prazer pela vida. Seu pai é o grande responsável pelas suas grandes alegrias. “Me sinto muito bem perto dele. Fico feliz, quando sei que vou encontrar com o meu pai, e ele sente a mesma felicidade ao me ver.”

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